Trazer experiências marcantes, de relevância nacional é um dos objetivos deste blog. E as que tratam de Inclusão Digital é uma dessas, que nos dias de hoje é tão essencial quanto a alfabetização (será que exagerei?). O Brasil sofre com a falta de mão-de-obra qualificada em TI, perde grandes oportunidades de exportação de serviços por isso, e de crescer.
Garantir o acesso à tecnologia a todos, isto é, democratizá-la, é um dos primeiros passos para dar vazão ao aparecimento de talentos, escondidos que estão nos mais remotos lugares deste nosso Brasil. Motivo que confere um status de suma importância a esse tema.
Por isso entrevistamos o Maurício, que tem contribuído bastante com um excelente trabalho no preparo de pessoal no projeto e vai nos contar um pouco de sua experiência na inclusão digital de indígenas. Acompanhe:
– Quando você começou a trabalhar com projetos de inclusão digital?
R: Em abril de 2007, fui convidado por um amigo aluno do Curso de Arquitetura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Diogo (hoje já formado) a participar do Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Indígenas (GEPPI) da universidade.
O GEPPI não tem site, mas você pode ver o que ele faz no Portal Web CREA-MS.
Como aluno, aceitei, mas apenas com projetos e idéias.
Foi então (junho de 2007) que o Governo Federal, em parceria com o governo do estado e com a prefeitura, montou um laboratório de informática na escola indígena pólo Cacique N’deti Reginaldo da Aldeia Água Azul, município de Dois Irmãos do Buriti que utilizava Linux.
Através do GEPPI e numa parceria com o Programa de Inclusão Digital do Banco do Brasil, realizei um treinamento dos professores para uso deste sistema, novo para eles.
Logo depois (agosto de 2007), o GEPPI realizou uma parceria com a Associação Comunitária de Desenvolvimento Artístico e Cultural Indígena da Aldeia Córrego do Meio (ACDACICOM), com a Escola Pólo Cacique Armando Gabriel (ambas na Aldeia Córrego do Meio, município de Sidrolândia), com a Prefeitura do município e com o Programa de Inclusão Digital do Banco do Brasil, para instalar um InfoCentro (sala de informática sem Internet) na escola.
Atuei neste projeto como instalador e instrutor para capacitar o indígena Eliziel Gabriel, responsável pela condução/manutenção da sala, que começou a funcionar no mês de novembro de 2008. Atualmente, estamos em busca de parceiros para tentar levar acesso à Internet para estes dois InfoCentros, uma vez que se localizam em plena zona rural (40 km da cidade mais próxima), para alavancar novos projetos.
– O que o levou a escolher projetos desse tipo?
Mauricio: O meu desejo de popularizar o uso do computador como ferramenta de produtividade para o máximo de pessoas, e de divulgar o conceito/uso de sistemas FOSS (Free Open Source Software, ou Software Livre e de Código Aberto).
– Quais os objetivos e público alvo do projeto?
Mauricio: Os objetivos são: implantar InfoCentros (e se possível, TeleCentros – salas de informática com acesso pleno à Internet)
utilizando FOSS, capacitar os responsáveis pelo gerenciamento destas salas, e fornecer diretrizes para o bom uso dos recursos das salas por toda a comunidade local, neste caso específico, indígenas da etnia téréna da Área Indígena Buriti do Mato Grosso do Sul.
– Há boa adesão de profissionais da região para esse tipo de trabalho? e o reconhecimento da comunidade?
Mauricio: Infelizmente, não há adesão, acreditamos pelas dificuldades de acesso (plena zona rural, a mais de 100 km da capital) e pela ausência de recursos financeiros (todos somos voluntários). A comunidade atingida pelas ações confia totalmente no GEPPI como instância consultiva na área de TI – o que para nós é o sinal mais evidente de reconhecimento do trabalho.
– Quais foram os resultados mais expressivos nos projetos em que participa/participou?
Mauricio: A comunidade incorporou as salas à sua vida diária, isto é para nós o resultado mais expressivo. Além disso, está envolvida em lutas para obter mais salas e finalmente viabilizar o acesso à Internet – demonstrando o desejo de seguir adiante com o sonho da informatização.
– Há algum patrocínio do setor público ou privado nesses projetos?
Mauricio: Sim, entre os quais a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, o Banco do Brasil, as Prefeituras Municipais de Dois Irmãos do Buriti e de Sidrolândia. Porém, são patrocínios de estrutura física e transporte, e de forma esporádica, necessitamos muito de uma parceria com o Grupo de forma mais permanente e nas áreas de materiais de consumo e bolsas para tornar as iniciativas mais numerosas e conseguir mais adesões de profissionais e/ou estudantes de TI.
– Quais são os maiores desafios encontrados?
Mauricio: Os maiores são a dificuldade de acesso mais frequente à região, a falta de bolsas para os membros do GEPPI (especialmente os estudantes) e a falta de uma política de governo de inclusão digital no estado do MS.
– qual o site para contato e maiores detalhes do projeto?
Mauricio: Não há site, mas endereços de e-mail:
- GEPPI, geppi@nin.ufms.br;
- Profa. Dulce Ribas, a coordenadora do grupo, ribasdulce@uol.com.br;
- e o meu, Mauricio E Gleizer, gleizer@gmail.com
Como foi bem citado pelo Maurício, infraestrutura é somente uma parte do projeto e dar acesso a um computador com internet simplesmente não resolve. Cabem a esses órgãos, responsáveis por seu financiamento, gerir melhor o projeto, atentando para suas necessidades básicas, que vão além de liberação de verba.
Maurício, obrigado por sua grande contribuição. A você, caro leitor, se tiver acesso a pessoas ou empresas que possam se interessar em patrocinar esse importante projeto, dê um forward caridoso neste artigo. A periferia do Brasil tem muito mais do que alguns boleiros de rara hablidade, que ainda vêem no esporte a única opção de alcançarem algum reconhecimento na vida.
Vejo a inclusão digital como a janela para o mundo de possibilidades de carreiras e realizações. Um direito que tem que ser de todos.
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